Os
Contos de Manuel Mar.
O
PESO DOS COSTUMES
Numa
pequena freguesia do concelho de Mafra, em tempos que já lá vão há muitos
séculos, havia uma tradição muito antiga só para os homens, que ninguém sabe
quem a inventou.
O
que se sabe é que quando se reuniam na igreja da freguesia e havia o ritual de
acender as velas, os homens só as apagavam depois de saírem pelo corredor da
sacristia, onde todos esmurravam as velas contra a parede para dessa forma as
apagar.
O
padre da freguesia um dia faleceu e foi lá parar um padre muito novo e brioso
que não gostou de ver a igreja com a sacristia toda borrada e cheia dos restos
da cera das velas.
O
padre novo arranjou logo uma comissão paroquial para mandar limpar tudo o que
estava muito sujo na igreja e pintar tudo de novo.
Assim
foi feito e a igreja ficou como nova. Toda gente foi felicitar o Senhor Prior,
levando algumas prendas como é costume em muitas freguesias.
Com
a igreja toda bonita, o Prior escolheu um dia para a comemoração do
acontecimento, com festa religiosa e banda filarmónica.
No
dia da festa tudo correu do melhor até ao momento do apagar das velas. O Prior
já tinha feito um pedido para não sujaram nenhuma das paredes porque tinha
custado muito a sua limpeza.
Acabada
a cerimónia, um paroquiano exaltado abeira-se do Prior e diz em voz alda:
-
Saiba Vossa Reverência que há uma tradição que não pode acabar:
Nesta
parede sempre o meu avô esmurrou a sua vela, o meu pai sempre a esmurrou e eu,
bem alto lhe digo, que essa tradição não pode acabar e, contra a parede esmurra
a sua vela.
Em
seguida outros paroquianos o imitaram e fizeram o mesmo como era de tradição.
Consta
que até hoje continua essa mesma tradição.
Mas
o Prior é que não gostou e pediu para sair de lá e foi pregar para outra
freguesia no concelho de Torres Novas à ordem do Bispo de Lisboa.
Manuel
Mar.
®
Torres
Novas, 12/5/2015
Foto:
Net
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