Os Contos de Manuel Mar.
O BURRO MALFADADO
Era uma vez um homem criador de
animais e que tinha um burrinho que saiu muito manso e que na sua terra ninguém
o queria comprar.
O pobre homem um belo dia
preparou o burro para ficar bonito e o levar feira para ver se conseguia
arranjar um comprador. Quando viu que o burrito estava com boa apresentação,
levou-o à feira, indo à frente dele com
a arreata na mão e uma varinha na outra mão para ir dando umas vergastadas no
burro para não ter de puxar tanto por ele, porque além de manso era muito
vagaroso.
Aconteceu que iam pelo mesmo
caminho dois rapazes que eram estudantes, e quando viram o homem com o burro
pela mão, pensaram e combinaram fazer uma partido ao pobre homem, esconderam-se
e depois seguiram atrás deles.
Com o maior cuidado, um rapaz
fez de burro e outro enfiou-lhe o cabresto do burro na cabeça, e assim
ficou a fazer de burro.
O pobre do homem, tão entregue
aos seus pensamentos ia, que não deu por nada e continuou a levar o rapaz pela
arreata pensado que levava o seu burro, enquanto o seu burro ficou para trás
com o outro rapaz, que seguindo a uma boa distância, levou o burro verdadeiro à
mão e soltou-o quando chegou ao mercado.
O estudante que tinha tomado o lugar
do burro começou a ficar muito cansado e parou, fazendo que o homem também
parasse. Ao olhar para trás, o pobre do homem ficou pasmado: No lugar do burro
estava agora um rapaz. Procurando disfarçar a voz o rapaz diz com meiguice:
Ah! Meu senhor, quanto lhe
agradeço por me ter dado uma vergastada na moleirinha! Assim quebrou o encanto com
que uma velha bruxa me tinha transformado em burro.
Sem perceber o que se tinha
passado, o homenzinho não parava de pedir desculpas ao rapaz por lhe ter batido
tantas vezes porque o seu burro era muito teimoso e só queria estar parado.
Lá deixou o estudante ir à sua
vida, lamentando a pouca sorte que teve ao ficar sem aquele burro.
Quando chegou à feira, começou
a dar algumas voltas e logo reparou num burro lá estava e que era tal e qual o
seu burro.
Desconfiado, mirou e remirou o burro. Já não
tinha dúvidas, aquele era o burro que não era burro e podia passar a ser rapaz
de um momento para o outro. Aproximou-se mais do animal e disse-lhe baixinho:
-Cá a mim tu não enganas mais nenhuma vez!
Quem não te conhecer que te compre!
E lá se foi à sua vida deixando abandonado
o animal que tinha nascido malfadado e lazarento e, assim se fez lenda.
Manuel Mar.
®
Tores Novas, 31/05/2015
Foto: Net
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