Os Contos de Manuel Mar.
O CASAL DA RIBEIRA
Na
minha aldeia, nos tempos antigos, era vulgar haver propriedades com casas de
abrigo, que eram usadas para variados fins, todos ligados à agricultura.
Os
meus avós também tinham casas desse tipo em propriedades que ficavam mais
distantes do centro da aldeia.
Muitas
histórias se contavam relacionadas com a vida desses tempos e das referidas
casas de abrigo.
O
meu avô paterno tinha uma propriedade denominada “A Ribeira” que tinha uma casa
de habitação, e um grande palheiro, um poço com uma grande picota, uma grande
horta, e cerca de 2 hectares e meio de terreno de oliveiras, figueiras,
amendoeiras, pereiras, ameixieiras, vinha e outras árvores de frutos diversos.
Na
casa de habitação viviam os patrões e as criadas duranta a semana e muitas
vezes só aos Domingos é que iam passar o dia na aldeia.
O
palheiro era destinado ao gado na parte debaixo, mas tinha um sótão grande onde
guardavam a palha para sustentar os animais e um compartimento onde dormiam os
homens trabalhadores à semana, de sol a sol, e os cridos quando os havia.
Os
produtos produzidos eram guardados depois nas diversas instalações do meu avô
na aldeia, onde tinha a adega, a casa da caldeira de destilar o figo, a tulha
do figo seco, o forno de cozer o pão, os arcões para os cereais, as talhas do
azeite, etc.
A
casa do meu avô era vedada por uma cerca de 1 hectare,
e
tinha um grande palheiro e 4 poços de água potável.
Fora
da cerca tinha a casa do pessoal do rancho que todos os anos vinha fazer a
colheita da azeitona.
Havia
outras propriedades mais pequenas.
Nesse
tempo, o que eu mais gostava, era da casa do rancho, que era um simples
barracão bem situado no centro da aldeia com 3 divisões. No rés-do-chão havia
uma grande lareira que servia de cozinha e onde se faziam as refeições do
rancho e ao lado uma sala-quarto para o sexo feminino. Os homens dormiam todos
no sótão.
Quando
essa casa não estava ao serviço do rancho era ali que eu fazia muitas das
brincadeiras de infância.
Mas
aquando das partilhas a casa do rancho e todas demais casas e propriedades
foram feitos 6 lotes e, depois no sorteio, a casa do rancho calhou ao meu tio
Cândido, que há muito não vivia na aldeia.
Passado
pouco tempo, feitas as escrituras, esse meu tio
vendeu quase tudo e uma parte foi o meu pai que
comprou, só não comprou a casa do rancho porque não
precisava
realmente dela, e nesse tempo não havia fartura de dinheiro.
E
assim acabou aquela casa do rancho que hoje é uma habitação, e nunca mais houve
rancho da azeitona.
Manuel
Mar.
®
Torres
Novas, 5/05/2015
Foto:
Net
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